Quando o tempo chega.
O que você encontrará nesta crônica:
"Por vezes, sentimos tudo perdido quando a última esperança se vai e duvidamos tanto do universo humano quanto do divino. Buscamos fora as respostas das frustrações, mas elas estão em nós e se revelam no tempo certo. Uma jovem mãe e um servo do Criador protagonizam um encontro com um desfecho surpreendente. Certo e errado, amor e ódio, luz e trevas estão no mesmo plano e diferem apenas nos graus. Todos convergem no ponto de equilíbrio, onde tudo se conecta, manifestando a semente Divina em nós. Abra o seu coração e a mente: permita-se explorar essa belíssima narrativa de forças extraordinárias."
I. Uma carta de despedida.
Dezembro, mais uma vez, se revela e estende seu manto sobre nós. Ele chega como um mês singular, impregnado de significados profundos, quase como um chamado da própria vida; um convite sutil para desacelerarmos e olharmos para dentro e, quem sabe, para além.
Depois de um ano inteiro mergulhados no trabalho, nos compromissos e nos cuidados com a família, dezembro surge como uma pausa necessária, trazendo o momento em que o tempo parece nos oferecer uma oportunidade rara: a chance de renovar não apenas o calendário, mas também o nosso espírito.
Este mês traz também consigo a celebração de um evento universal: o nascimento de um grande Mestre. Sua lembrança, que atravessa séculos, irradia uma energia que transforma, quebra rotinas e reacende, em muitos, a esperança e a paz.
Claro que há exceções; nem todos percebem esse chamado da mesma forma, é verdade. Mas, em meio aos ruídos e à correria deste mundo, é inegável a importância de um momento de comunhão, de unidade entre os seres humanos e de um reencontro com nosso próprio centro, para nos reconectarmos com o que realmente importa.
Ancorados no simbolismo de dezembro, que pode representar tanto o fechamento de ciclos quanto a celebração de renascimentos, podemos despertar para sentimentos transformadores: a paz como resistência, a serenidade como poder e o reencontro consigo mesmo como o ato mais revolucionário que podemos realizar.
Com muito respeito e reverência, trago aqui um relato especial, algo que aconteceu com uma grande amiga – uma revelação que carrega a profundidade de uma crônica por si só, uma crônica que se escreve sozinha. Intitulada "Uma carta de despedida", suas palavras transcendem o registro pessoal e ganham uma dimensão universal, como se falassem diretamente ao coração de quem as lê. É uma história que jamais imaginei presenciar e que ecoa em minha memória com a profundidade de um grande aprendizado. Pela força de sua sinceridade e pelo impacto de suas reflexões, ela é digna de ser compartilhada em sua totalidade.
Cada história individual carrega consigo um convite à transformação coletiva. Deixo, então, que as palavras dela falem por si mesmas. E assim, ela inicia sua narrativa.
Il. Sede de paz.
"Após ler uma crônica publicada sobre a paz, senti que era o momento de buscar minha paz interior. O texto falava sobre a importância de encontrar um refúgio interno, longe das pressões externas e da necessidade de sempre agir diretamente. Foi um ponto de virada para mim. Até então, eu estava imersa em uma busca incessante por movimentos de libertação, com toda a intensidade possível, mas percebi que, por vezes, a serenidade pode ser uma forma de resistência ainda mais forte.
Deixei minha casa e minha família, em um sopro de despedida. Elas compreenderam. Sabiam que eu precisava dessa jornada de autoconhecimento. Partir não significava abandonar as pessoas amadas; era uma promessa de retorno mais inteira, mais firme em minhas raízes..
Fui acompanhada por um casal de amigos verdadeiros, aqueles que me ensinaram a encontrar a Luz. São amigos viajantes das entrelinhas, que sabem transitar pelas sombras e desbravar caminhos que poucos conseguem ver. Partimos em silêncio, cada um com seus pensamentos, mas unidos pelo mesmo propósito. A travessia parecia ser marcada por uma tranquilidade misteriosa, quase sagrada, que me envolvia e acalmava cada célula do meu corpo.
Enquanto caminhávamos sob céus vastos e por terras desconhecidas, percebi que a paz não era apenas a ausência de conflitos externos, mas também um estado de aceitação do próprio mundo interno.
Seguíamos pela estrada enquanto uma guerra interna tomava conta de mim. Cada passo ecoava como um sussurro do passado, lembrando-me dos movimentos das batalhas que travei. Não eram lutas comuns, eram confrontos contra as sombras - aquelas forças sutis e escuras que se infiltram nas mentes e corações, arrastando as pessoas para o abismo da desesperança.
Pensava nas tantas almas que pude ajudar, oferecendo-lhes um fio de luz, uma chance de reencontrarem o próprio espírito em meio ao caos. Cada pessoa que encontrei ao longo do caminho carrega em si uma marca, uma luta que não podia ser vista, mas queimava como brasas acesas. E, muitas vezes, fui a única que pôde enxergar essa chama. Era uma responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma honra, pois sabia que não estava sozinha. Um amigo filósofo e servo de Deus sempre me acompanhava, mesmo à distância, com seus ensinamentos e sua presença serena.
As palavras dele voltavam à minha mente como um eco suave. Eram ensinamentos simples, mas que me guiavam quando o medo ameaçava dominar. Eu sabia que ele estava certo: a paz não era o fim das batalhas, mas o equilíbrio entre elas. Mesmo assim, a ideia de encontrar esse equilíbrio dentro de mim parecia, naquele momento, um desafio maior do que qualquer luta que já havia enfrentado.
Enquanto a paisagem ao redor mudava, com montanhas distantes e vales iluminados pelo sol poente, senti meu coração apertado, dividido entre o desejo de interromper a luta e a lembrança de cada vida que ainda dependia dessa batalha. Sabia que, ao partir nessa jornada, talvez estivesse deixando para trás mais do que a minha casa e a minha família.
A crônica da paz, por mais que despertasse em mim questionamentos profundos, ainda não trazia a paz que eu buscava. Suas palavras, embora reconfortantes, eram como ecos de uma verdade que eu entendia com a mente, mas ainda não conseguia sentir no coração. Era como se eu estivesse presa em um espaço entre o que sabia e o que realmente precisava encontrar."
lll. O Encontro.
"Em um dos dias da viagem, paramos em um restaurante de beira de estrada. A noite estava silenciosa, e o ar carregado com o cheiro de café e comida simples, como se o tempo ali corresse mais devagar. Nós nos acomodamos em uma mesa desgastada pelo uso e pedimos algo para comer enquanto descansávamos dos quilômetros percorridos.
Eu mal toquei na comida, distraída pelos pensamentos e pelo cansaço, até que, de repente, uma energia familiar me envolveu, forte e intensa, como uma corrente invisível que atravessava o ambiente. A sensação era inconfundível: a mesma energia que tomava conta dos domínios do amigo filósofo quando pessoas conectadas ao divino o visitavam.
A princípio, fiz um esforço para focar no que estava diante de mim: o barulho dos talheres, as risadas abafadas, a quietude dos meus companheiros. Tentei me convencer de que era apenas um reflexo de minhas lembranças, uma projeção daquela busca incansável pela paz. Mas a presença daquela energia era inegável, como um sinal de que algo maior estava se manifestando ali, naquele momento.
Mas então, a energia continuava a crescer, como ondas invisíveis que pulsavam e tomavam conta do ambiente, cada vez mais intensas. Parei de comer, incapaz de ignorar aquela sensação que parecia vinda de outra dimensão. Algo, ou alguém, irradiava uma presença tão poderosa que minha própria respiração parecia lenta e pesada, como se o tempo estivesse se esticando ao redor daquela força. Olhei ao redor, procurando a fonte daquela energia.
Foi então que meus olhos se fixaram em um homem - um senhor alto, de barba densa e rosto sereno. Ele estava vestido com um paletó que, apesar do ambiente simples, parecia quase cerimonial. Ele falava em voz baixa, mas suas palavras chegavam até mim com clareza, como se fossem direcionadas a cada pessoa que as ouvia. Ele se referia ao Criador, chamando-O de Salvador, e descrevia um amor profundo e um propósito maior, que transcendiam qualquer dor ou conflito.
O homem estava rodeado por outras pessoas do restaurante, que o ouviam em silêncio, absorvendo cada palavra com uma atenção quase reverente. Eu também fiquei ali, quieta, como uma espectadora, envolvida por aquela energia que parecia preencher o ambiente e, ao mesmo tempo, tocar algo dentro de mim.
Escutei cada palavra dele, sentindo como se ele estivesse desvendando segredos que eu sempre soubera, mas nunca conseguira verbalizar. Esperei, imóvel, até que, aos poucos, as pessoas ao redor começaram a se dispersar, uma a uma, deixando o homem sozinho, perdido em um silêncio quase sagrado, que parecia ecoar mesmo na simplicidade daquele lugar.
Movida por uma curiosidade irresistível, aproximei-me do senhor, pedindo licença com um sussurro cauteloso.
- “De quem o senhor estava falando?”, perguntei, mal conseguindo conter a ansiedade na minha voz.
Ele virou-se para mim com um olhar tranquilo e, em um tom baixo e firme, respondeu: “Você conhece Jesus da Bíblia?”
Eu hesitei por um momento antes de responder.
- “Ultimamente, tenho ouvido falar d’Ele, mas… não o conheço diretamente.”
Ele assentiu, como se já esperasse aquela resposta. Sem pressa, pediu um suco para mim, indicando uma cadeira vazia ao seu lado.
- “Você tem um tempo?”, perguntou. “Eu queria contar-lhe quem Ele é.”
Por um segundo, balancei a cabeça em negativa, justificando-me.
- “Eu… preciso partir em breve, não tenho tempo agora.”
O senhor olhou para mim com uma expressão de leveza, mas seus olhos brilharam com uma intensidade inesperada.
- “O tempo é este, minha jovem. Coincidências não existem. Você estar aqui, hoje, é uma providência de Deus. E, se você quer paz, conceda-me apenas alguns minutos.”
Fiquei imóvel, pasma. Como ele podia saber exatamente o que eu estava buscando, o que mais ansiava em silêncio? Era irônico, porque, em minha própria profissão, eu fazia exatamente isso. Desta vez, eu era a ouvinte, e ele, o portador de uma verdade que parecia estar aguardando o momento certo para me encontrar.
Ele começou a falar com uma calma quase sobrenatural, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida para despertar algo adormecido dentro de mim. Contou-me sobre Jesus, não apenas como uma figura distante ou uma história contada por outros, mas como alguém vivo e presente, que se importava profundamente com cada pessoa. Falou sobre Deus, um Criador que, segundo ele, transcende qualquer religião e que, acima de tudo, é a própria essência do amor. Disse que Jesus veio à Terra não para fundar instituições humanas, mas para ensinar o caminho desse amor, que é a base para a verdadeira salvação.
Explicou que, no cristianismo, sua fé protestante oferece um meio de se aproximar desse amor e dessa verdade, mas fez questão de enfatizar que Deus não se limita a nenhuma tradição ou segmento religioso. “Deus está além de qualquer rótulo”, disse ele. “Ele não veio para criar divisões, mas para mostrar um caminho de paz e salvação a todos. A Bíblia é nosso manual de instruções, um guia para entender Seu propósito e viver uma vida transformada.”
Enquanto ele falava, senti aquela energia inconfundível que tantas vezes presenciei nos domínios do meu amigo filósofo, como se um campo de luz invisível tivesse descido sobre nós, iluminando cada palavra e pensamento. O ar ao nosso redor parecia carregado de algo maior do que eu podia explicar.
Após um momento de silêncio, ele olhou para mim com um sorriso suave.
- “Eu sou pastor de uma pequena igreja em uma vila próxima”, disse ele. “É um lugar simples, mas acolhedor. Estaria honrado se você viesse a um culto, em uma hora dessas, para se encontrar com Deus, da forma que desejar.”
Expliquei ao pastor que estava acompanhada de amigos e que estávamos de passagem, hospedados em uma cidade próxima. Ele me olhou com interesse e perguntou qual era a cidade.
Respondi e, para minha surpresa, ele sorriu.
-"Ora, é lá mesmo onde fica minha igreja! É um lugar pequeno, mas suficiente para aqueles que buscam algo maior."
A coincidência me fez sorrir de volta, mas algo dentro de mim sussurrou que talvez ele estivesse certo - que ali não havia acaso, mas os caminhos de Deus se revelando. Aceitei o convite para o culto, sentindo uma nova sede brotar em mim: um desejo profundo de entender mais sobre esse Deus de quem ele falava com tanta certeza e amor.
Antes de nos despedirmos, o pastor me lançou um olhar firme, quase paternal, e compartilhou uma passagem da Bíblia: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." Ele fez uma pausa, permitindo que as palavras ecoassem no silêncio da noite. "João 14:27," completou suavemente, como se cada sílaba fosse um convite à quietude que eu tanto buscava.
As palavras penetraram profundamente em mim, e por um instante, fiquei imóvel, sentindo o peso daquela promessa de paz. Era uma paz que não dependia das circunstâncias ou do mundo exterior, mas que vinha de algo infinitamente maior e mais verdadeiro: maior que qualquer ensinamento humano, maior que qualquer ser humano."
Continua.....
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Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.