Ao voltar do meu trabalho presenciei um fato surreal no pedágio.
Por motivo que eu desconheço, um carro ficou muito tempo parado na cabine do pedágio. O atendimento do mesmo foi muito acima do tempo operacional. O motorista que aguardava atrás desse carro se irritou com a demora demasiada. Ele tentou sair da fila, porém outros veículos o bloqueavam, inclusive o meu carro. Não tinha como se movimentar, estava completamente engessado naquele lugar. Sem alternativa o homem iniciou uma sessão de buzina irritante e insistente e, notei que esbravejava com seu braço esquerdo fora da janela parecendo um animal enjaulado.
Alguns solidarizaram com a buzina e outros riam da sua atitude. Seja como for houve uma provocação a nível do coletivo ali presente e uma contaminação densa a nível da nossa psicoesfera. O motorista irado desce do seu veículo e vai até a cabine tirar satisfação. O que estava parado paga e sai depois desse alvoroço todo. O provocante motorista volta para o seu veículo. Pasmem... agora o seu veículo “apagou” de vez travando os demais. Todos atrás de mim conseguiram manobrar, saíram da fila e se dirigiram para outras cabines de cobrança. Permaneci parado acompanhando o fato, queria ver o final do episódio. O veículo foi empurrado pelos funcionários do pedágio até a faixa zebrada, que fica logo depois da cancela.
Prossegui, paguei o pedágio e a cancela se abriu. Passei lentamente do seu lado e ofereci ajuda. Como esperado, nervoso, irritado, rosto avermelhado, fora de controle e com o celular na mão ele me mandou para um “determinado lugar”. Respeitando o seu desejo, desejei-lhe boa sorte. O motorista queria correr atrás de mim, mas não teve tempo e nem chances de atirar os sapatos...
Da normalidade ao alvoroço, da tranquilidade ao descontrole emocional, do trágico ao momento hilariante, esse fato fez refletir sobre um dos sete pecados capitais: A IRA.
Difícil encontrar alguém que não tenha presenciado uma discussão acirrada com agressões físicas e psicológicas, gritos descontrolados, eloquência nas palavras de baixo nível; num acidente de trânsito, fila de supermercado ou até mesmo dentro de um ambiente familiar, entre os próprios familiares. Não bastasse agressões presenciais, agora isso ocorre também em outra modalidade: nas redes sociais.
Ocorre no mesmo formato agressivo e sem respeito, mas de forma diferente: ele se oculta por detrás de um celular, o que o mantém com facilidade no anonimato. Anonimato somente no plano físico porque jamais ficará despercebido pelas Leis que regem o Universo. Cada ação praticada fica registrada no seu campo eletromagnético, o que infalivelmente trará de volta por uma simples, porém complexa reação de expansão e contração.
Podemos chamar como a Lei do Retorno, Causa e Efeito, Atração e tantos outros nomes que podemos encontrar na física quântica. Uma pessoa que está neste estado e que mal consegue se conter, seja na atitude, na escrita ou na fala, é considerada como total desconhecedora da sabedoria do Amor e dos Ensinamentos deixados por um Grande Homem há dois milênio: Amor ao próximo.
A Ira é estudada dentro da psicanálise e é considerada como um dos sete pecados capitais na filosofia. Na mitologia grega é demonstrada a cólera de Aquiles na guerra de Tróia; quando ele fica sabendo da morte do seu companheiro de batalha ataca com violência e com total descontrole a cidade. Mata e decapita o líder oponente, amarra numa biga e arrasta o seu corpo pela cidade. Um homem que tinha no sangue a honra da aristocracia e de guerreiro respeitado, imputa-se das leis de guerra e reserva-lhe o direito de vingança. Porém, expõe sua fraqueza; o seu calcanhar.
A intensidade da Ira aponta o tamanho do ego, ignorância e vaidade dentro de cada um. Pior que são doses de veneno chamado Ódio, que conscientemente vem assassinando seu interior já minado com alto teor de inveja. O ódio está dentro de um plano de crescimento. Após o momento de descontrole, com reflexão pode-se começar a entender que tem coisas que não se consegue mudar e é preciso a aceitação. De nada adianta ficar dando pontapé em canto de criado mudo. No mundo em que vivemos sempre existirão pontos que são contrários aos nossos. Basta reconhecer e pronto. Just!
Quando um algo irritante acontece e ao pressentir seu afloramento de raiva, precisamos entender que não possuímos poder de controlar o mundo da forma planejada, que podemos não possuir poderes suficientes para modificarmos a verdade, mesmo que relativa. Nesse momento, precisamos ter a humildade e reconhecermos, como um samurai que se curva diante do Shogun, que há um oceano de pontos contrários em relação ao nosso modo de pensar.
Do lado oposto da Ira tem-se a PACIÊNCIA. A Paciência manifesta também a Humildade. A Humildade eleva o seu espirito deixando o Ego de ser o centro do seu universo. A Paciência é uma virtude.
Em todas as fases da vida a nossa paz é sempre atentada e provocada, como um grande exercício para testar, provar e reconhecer se ela realmente já está dentro de nós, independente de qualquer “inferno” exterior.
Um sábio não entrega sua paz e tranquilidade a outrem porque as expressões emanadas pelo outrem não afetam e nem o ferem. O sábio reconhece o poder da razão e da capacidade de sentir os impulsos de agressividade do outro. A qualidade da sua reação faz o Homem entre os homens. Jamais sirva de arco para impulsionar a flecha da discórdia para atingir um patamar maior de intolerância. É preciso reconhecer que há necessidade de uma expansão da consciência humana.
Não se abata na tristeza porque ela não está dentro de você e sim dentro da pessoa que possui esse sentimento de Ódio.
A escolha é dessa pessoa continuar inerte no vasto campo do conhecimento.
Alguns entram no jogo, outros rejeitam.
Ao motorista que ficou preso nas suas próprias atitudes, o Universo trará outras chances de reconhecimento da sua própria existência.