A invisível linguagem das vibrações de ondas
Certo dia, uma amiga terapeuta disse que os homens fazem terapias de forma alegre, quando se reúnem num bar ou num clube e que muita coisa não se falaria se estivesse num divã. Ao ouvir isso dei uma gargalhada, achei engraçada tal colocação. Brincando, exclamei que ela entendia o chamado “tomar umas no bar da esquina”.
Depois de tempos, avistando um grupo de amigos rindo e gesticulando em meio a garrafas de cervejas, lembrei da minha amiga e fui lá participar da “terapia” de grupo.
Marmanjões sem camisas, chinelos de dedo nos pés, cabelos grisalhos, barba malfeita, assunto de pescaria e mulheres. Entro na mesma vibração e participo intensamente da sinfonia do vai e vem das conversas. Neto com problemas de drogas, filho envolvido com endividamento financeiro, vizinho que é encrenqueiro, esposa mandona, assuntos do trabalho e uns sobre a vida de aposentado. Aposentado que virou office-boy da “patroa”. Política então nem se fala. E no futebol todos são técnicos. Entre um copo e outro de cerveja, petiscos e movimentos engraçados eles se desabafam. Havia de concordar com minha amiga, com toda razão.
Em meio a muitas risadas percebo a presença de um menino. Próximo ao balcão do bar, sentado numa banqueta alta, estava ele de costas para o alegre grupo, concentrado em alguma coisa.
Curioso como sou fui ver sua atividade, totalmente contrária da bagunça dos idosos. Ele simplesmente desenhava um cata-vento.
Fiquei intrigado.
Não assistia TV, nem mexia no seu celular que estava ao seu lado. Após uma pequena interação, fui buscar um pouco mais a fundo onde o seu pensamento estava pairando. Disse-lhe que se o desenho dele fosse ter movimento, as pás estariam girando com a força do vento.... Sem tempo para falar mais dos detalhes do seu desenho, ele me indaga.
Perdeu a crônica de semana passada? Leia o texto na íntegra clicando aqui: Crônica | Síndrome de Frankenstein
- “O que é um movimento?”
Fiquei a pensar qual seria a melhor resposta... não poderia simplesmente colocar os teoremas da aerodinâmica e muito menos as complicadas equações de matemática. Essa minha busca para uma resposta mais simples parecia uma eternidade...
Pensei e repensei para fazê-lo compreender da melhor forma possível. Antes da minha primeira inspiração ele me diz:
- “Tio, tudo que se mexe tem vida né? É movimento ...”
- “Isso... Grande garoto!”, feliz respondi.
Até há poucos anos, todos acreditavam que a matéria era algo no estado denso, líquido ou gasoso. Entretanto, nas descobertas das interações de átomos, elétrons etc., começaram a concluir que aquele material denso e pesado tinha outra conotação. Apesar de minúsculo, o átomo, partícula unidade última da matéria ocupa um espaço, pois possui o seu volume. Ele, com os nêutrons e prótons constituindo seu núcleo, são formados por um tipo de energia elétrica; então não é difícil deduzir que na sua essência é energia. De tudo o que é constituído por átomos, do micro ao macrocosmo, de um pequeno ser à essência do Universo... em última instância vibra, portanto vibramos. Estamos em movimento, constante e incessante.
Porém, muitos acham que a vida é parada, sem motivação, um horror de sem graça; que “eu não deveria ter nascido, sou fracassada, amargurada etc. etc.”... Esse foi um dos assuntos que surgiram como reclamação da nora de um dos participantes daquele grupo, ali do lado.
Eu estava a pensar na estática da vida daquela pessoa e vem o garotinho inspirar com o movimento. Caminho contrário. Interessante, pensei! Tudo ao nosso redor possui uma dinâmica fabulosa que se manifesta incessantemente, mantendo tudo em movimento, tudo muito ativo e muito vivo. Realidade que não percebemos, pois apenas aparecem os movimentos que constatam nossos olhos físicos. Exato, nossos olhos físicos são capazes de captar uma faixa tão minúscula do espectro eletromagnético que, todo o seu restante fica apenas na nossa imaginação quando pensamos em descrevê-lo.
Mesmo não enxergando, podemos constatar sua existência com muita facilidade, a frequência de uma onda pode ser medida e o resultado dessa medição é a tal da unidade hertz.
Usamos todos os dias e nem percebemos. E o pior é que nem nos questionamos como tudo funciona.
Vejamos dentro da escala do espectro hoje existente; pois existem outras frequências de ondas que fogem do nosso conhecimento atual.
-Ondas de rádio, de televisão: ninguém fica de fora, todos usamos.
-Micro-ondas: estão em todas as cozinhas e nos celulares.
-Infravermelho: muito usado na medicina.
-Luz visível.... essa é a pequenina, minúscula faixa no meio das ondas que conseguimos enxergar, apenas essa.
-Luz ultravioleta: fique no sol e sinta a sua presença.
-RaioX: quem nunca precisou tirar um?
-Raios gama: usados em radioterapia.
Imagina como somos pequenos em relação a essa rede gigante que está transitando por todos os lados, por todos os campos e nós simplesmente inseridos nesse emaranhado sem fim. Na intimidade de tudo temos uma onda, uma medida em hertz... tudo tem uma informação própria.
Eu me senti desafiado pela mente rápida e brilhante do garoto; então perguntei:
- “E as pedras se movimentam?”. Eu já esperando uma reposta pré-estabelecida e óbvia, me surpreendi.
- “Lógico que sim! Minha professora ensinou que a Terra gira em volta do sol” responde o garotinho.
- “Então a pedra tem vida?” Indaguei. Eu, já querendo quebrar o raciocínio dele.
- “Quem inventou a pedra?” Ele logo me questiona.
- “Deus.” Assim eu disse.
- “Então Deus deu vida a tudo?”
Podemos afirmar que este mundo visível, que podemos chamar de matéria ou além dele, de mente, de energia, se originou de uma única causa. Então por trás de todas as criações, sejam elas possuidoras de forma, energia ou mesmo uma Lei; existe um “único elemento”. Que podemos chamar de Deus, de Todo, de Criador, de Inteligência.
Ninguém sabe onde Ele está, mas o Universo na sua perfeição, num sincronismo de total ordem em todos os minúsculos detalhes, nos mostra a sua absoluta e inquestionável grandeza.
Dentro da razão cósmica do garotinho, eu me entreguei.
Realmente a pedra segue um movimento de rotação e translação. Ela se move em relação ao sistema solar.
Imaginem agora numa esfera um pouco menor...
A pedra está lá vivendo sua vida, parada, na sua costumeira inércia e totalmente dentro da lei do menor esforço. Está lá, toda paradinha, imóvel... até que um dia passa alguém e a chuta, ou a pega e a atira longe ou mesmo é esmagada pelo peso de um carro que passa. Ou vem a chuva e a carrega e assim... vai rolando sua vida como pedra; dependendo dos outros ou da própria natureza para se atritar, para se movimentar, para se desenvolver.
O curioso é que tem muitos seres humanos que sonham e idealizam sua felicidade semelhante à vida de uma pedra. Procuram a todo custo estar dentro da lei do menor esforço, ficar no ócio, sem fazer nada, na inércia. O vício no conforto, na acomodação, no deixar para amanhã e assim vai... no dito chamado bem bom.
Até que um dia, inevitavelmente o movimento chega.
Assim como a pedra foi chutada criando com isso um atrito e a tirando da sua fixa rotina; uma pessoa também pode ser chacoalhada pela vida e a retirando da sua agradável zona de conforto.
O raciocínio do garoto de que tudo que mexe tem vida e a consequente indagação da pedra, trouxe outra memória intrigante a respeito. Conheci uma pessoa que tinha coração feito pedra, duro e praticamente cristalizado. Nada era capaz de qualquer amolecimento, ranzinza e mal-humorado, nada de elogiar, a tudo criticava. Nada o alegrava, só o aborrecia. Nenhum sorriso, só era o franzir da testa. Nenhuma compaixão, era sempre o dono da verdade. Pobre criatura, um dia ele se foi, adormecido e literalmente duro como uma pedra.
Temos muitas pessoas assim... duras e inflexíveis.
Pois é, parece que não, mas as pedras vibram, assim como as “pessoas pedras”.
Estão dentro do Nível Terrestre Mineral, que se constitui de uma energia física e uma etérea.
Como sua matéria é mais densa ela vibra muito devagar, então visualmente achamos estar parada. Assim como uma luz, que vibra tão intensamente que parece também estar parada. São dois extremos que nos dão uma ilusão de ótica, de estático e parado.
A matéria é um tipo de energia condensada e a energia é uma matéria em expansão.
Temos um Universo que é todo informado, tudo se resumindo em uma onda e em um nível mais profundo tudo se movimenta. Uma pedra tem as informações de pedras. As plantas com suas informações específicas de cada uma de suas espécies, pertencem ao Nível Terrestre Vegetal. Constitui esse nível de energia física, etérea e mais uma energia, a emocional; indo um pouco além do mineral. Neste nível terrestre vegetal também estão muitos seres humanos, vegetando e se esquivando dos que podem afetá-lo. As plantas não sentem dor, mas reagem a estímulos agressores.
O garoto continua entretido no seu cata-vento, entre um pirulito e uma gostosa paçoca prossegue conversando sobre suas aulas da escola. Disse que naquela semana ficou muito triste porque um dos alunos de lá, chutou e machucou um cachorrinho na rua.
- “Tio, minha mãe já me explicou, mas não entendi porque ele fez isso e ainda deu risada. Eu tenho dois cachorrinhos e nunca faço qualquer maldade para eles”.
Tentei explicar a ele, mas como tirar o sentimento de pesar de seu coração, somente com palavras? Para um coração mais puro, nada justificaria tamanha crueldade.
Infelizmente há ainda muitas pessoas nesse nível. Agressões físicas, agressões em palavras, em mentiras, em manipulações... pobre criança, nada sabe ainda desse mundo tão cheio de hostilidades.
Na esfera do Nível Terrestre Animal, temos a energia física, a etérea, a emocional e acrescenta-se a energia mental. Muitos animais já são dotados de capacidade mental. Porém, há muitas pessoas que permanecem ainda presas apenas nos seus instintos, desprezando outras capacidades que a constituem. Infelizmente deixando de ser um verdadeiro ser humano.
Dando um salto para o Nível Terrestre Humano temos a energia física, a etérea, a emocional, a mental e a espiritual. Prestemos atenção! Estamos vivenciando o nível correspondente a nós seres humanos?
E você, em que nível terrestre está nesse momento? No mineral? No vegetal? No animal? No humano?
Se avalie, se posicione! É muito importante sabermos onde nossas consciências estão vibrando.
Trazendo Platão para nossos dias e que há séculos já perguntava: “Quem é você?”. Não, não é nosso nome, número de RG ou CPF, nem nossa filiação... é nosso endereço vibracional, em que plano vibracional estamos. A nossa afinidade, o que nos realiza, ou as coisas que nos contrariam... tudo isso nos mostra onde na escala vibracional estamos posicionados. Como uma escala musical, cada nota emite e contêm uma vibração, assim é com tudo. Identificamos as notas musicais pela sua vibração. É o que podemos chamar de CPF de identificação vibracional. Pela vibração emitida podemos nomear todas as coisas e todas as pessoas.
Conheça-te: que fatos, palavras, sentimentos, músicas, textos, artes, imagens, tocam a sua alma? Quais são suas dificuldades e as suas qualidades? Enumere... será que vai se surpreender? Tente, faça o teste.
Autoconhecimento tira-nos da ignorância de nos acharmos vítimas de tudo e de todos. Tira-nos da algema que nos mantém reféns, cegos e encapsulados numa certa inércia compensatória de ilusão.
Se estamos no mundo, estamos vibrando, estamos repercutindo, então influenciamos e contaminamos tudo que nos rodeia, seja para o bem ou seja para o mal. Seremos sempre responsáveis pelas nossas vibrações, jamais estaremos impunes. Não é nada fácil vibrar positivamente a maior parte do tempo.
Ao sermos responsáveis pela contaminação ou contágio de nossas próprias vibrações, há que se aprender a perceber as pessoas com quem nos relacionamos.
Todos nós temos uma assinatura vibracional, de acordo com ela nos sentimos bem ou mal perto das pessoas.
Uma vez que aprendemos a perceber onde estamos vibrando, podemos também aprender a escolher tudo o que nos chega ou também o que vamos emitir. O campo de energia que se forma em nós, vai depender de nós mesmos para efetivar qualquer mudança que se queira. Temos o poder de escolha das palavras, dos sentimentos e das atitudes. Temos a liberdade de escolher as informações que farão parte do nosso ser. Sermos seletivos nas notícias que ouvimos, nos tipos de música que escolhemos e que vão vibrar em nosso corpo e nossa alma.
Qual o tipo de lazer que faz parte da nossa vida? Com quem andamos? Qual é a qualidade das informações que estamos compartilhando com as pessoas? São positivas, são negativas? Será de mais peso o que sai de nós do que o que entra. Qual a qualidade das palavras, dos atos e mesmo dos sentimentos e intenções que está oferecendo?
As ondas que emitimos vão trazer de volta, por eletromagnetismo, as coisas na mesma frequência.
Depuração através de conhecimentos e autoconhecimento. Cultivo do autodomínio.
A frequência da atual sociedade é boa? Escolha entrar ou não na sua frequência. É como ligar o rádio e escolher a estação que se quer ouvir. Escolha a estação, com cuidado e consciente das suas consequências.
Se temos a lei do eletromagnetismo atuando, quer queiramos ou não, quer acreditemos ou não... então podemos e devemos escolher as vibrações positivas que vão proporcionar harmonia, que vão acelerar nossa vibração... então procuremos pela alegria, beleza, verdade, bondade, coragem, amor, aceitação, serviço ao próximo e muita gratidão. Na contramão, as negativas servirão para uma densa vibração trazendo o caos. O medo, raiva, ódio, lamentação, vergonha, culpa, orgulho, mentira, fofoca, ingratidão. E por aí vai...
Se conseguirmos fazer uma leitura mais profunda da Ordem do Universo, podemos aprender a ordem da nossa vida humana. Não existe pedagogia melhor que a da Natureza e temos a inteligência para isso. A sutilização dos nossos pensamentos através da aceleração de nossas vibrações, resultará em elevação de sentimentos. Consequentemente, nobreza nas atitudes e valores.
Pensando nos termos movimento... se evolução consiste em acelerar o nosso nível vibracional para nos elevar a planos mais elevados, o que podemos fazer para tal?
Se a frequência do Todo, do nosso Criador é de puro Amor, há que caminharmos para essa única direção. É quase que um pensamento lógico e racional.
Podemos concluir que acelerando a matéria chegaremos na energia. Acelerando a energia encontraremos luz... da luz acelerada chegaremos ao que podemos chamar de espírito.
E daí podemos imaginar e acreditar se assim decidirmos, ou então esperarmos a ciência nos dizer, ela deve estar quase chegando lá. Talvez possamos entrar no conceito da teoria das cordas ou talvez nesse momento, apenas nos propondo a vibrarmos cada dia um pouquinho mais alto. Um passo de cada vez, uma proposta de cada vez, com muita paciência e constância. Entendendo, aplicando e solidificando no nosso ser os verdadeiros ideais dos seres humanos. Buscarmos uma frequência de vibração onde se reina a harmonia, a paz, a alegria, a ordem, a gratidão.
Do estado denso à onda. Da vida estática à contemplação da alma. Tudo depende do movimento.
E no movimento entrou o cata-vento que construímos juntos, eu e o garoto. Com o auxílio de clips, palito de sorvete e um pequeno sopro, ele girou graciosamente. Outros dois sopros mais fortes e ele girou com maior velocidade. Tudo vibra, tudo movimenta. Seus olhos brilharam e uma vibração de muita alegria invadiu todo o seu corpo fazendo-o se levantar, pular, gritar e aplaudir com entusiasmo. De imediato ele disse:
- “O meu desenho saiu do papel e ficou de verdade!! Vou levar e mostrar para minha professora o que aprendi com o senhor...”
Nesse instante o grupo ali do lado, contagiado pelo entusiasmo do garoto, reagiu com palmas e assobios.
Todos vibraram com palavras, risos e o principal... a alegria que o garoto irradiou despertou a criança interna de cada um ali presente.
Que vento Divino invadiu e aqueceu nossos corações!
Vibração de pura energia!!
E era um simples cata-vento, que ao sair do papel despertou todo esse movimento!
Que tal baixar e compartilhar trechos dessa crônica com a galera?
Veja também uma arte animada da crônica de hoje!
Staff que trabalha para as Crônicas chegarem até você
• Cronista e filósofo neo
Otavio Yagima
• Coautora
Maria Hisae
• Narração
Patrícia Ayumi
• Artes
Thiago Martins
• Edição
Leonardo Fernandes
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