Marcas que o tempo não apaga
Estamos em maio, manhã fria de sete graus, lá fora uma névoa já lembrando os meses de inverno.
Fui me sentar numa das cadeiras do nosso “Dondon Moeru”, que ainda conservava umas poucas brasas e cinzas da fogueira do dia anterior. Com um gostoso chocolate quente, manta nas costas, luvas nas mãos e uma touca de lã a cobrir minhas orelhas; fiquei à espera do raiar do sol. No silêncio do clarear do dia a convidar para uma reflexão e um retorno no tempo aconteceu. Escrevi a um querido amigo, que insistia em vir à minha memória nos últimos dias.
Meu caro amigo.
Esteja aonde estiver, espero encontrá-los todos bem.
Saudades daquele velho tempo, tão diferente do nosso agora. Vou enviar esta, via correio, para a casa dos seus pais. Sei das tradições e também que ainda moram naquela fazenda, paraíso construído com muito trabalho e esforço de toda família.
Perdeu a crônica de semana passada? Então confira ela aqui: Crônica #62 | Esperança
Nós nos conhecemos num retiro espiritual bem na época de carnaval, e hoje reconheço que foi uma das importantes fases para minha teosofia. As convivências, em meio às pregações, pareciam mais diversão e brincadeiras, porém, confesso o valor inestimável que teve esse período para a minha vida. Segui meu caminho profissional em Ciências Exatas e você em Humanas. O tempo, apesar de ser metódico, compassado e repetitivo parece ter passado atropelando tudo e todos, e com isso ficamos anos sem contato. Sei que trabalho e família não justificam a ausência e seria covardia culpar o senhor tempo. Antes que me pergunte o que fiz nesse período, assim posso lhe responder:
Vivi uma vida cheia e intensa, que sinto, fiz valer viver. Experenciei de tudo um pouco, viajei pelas estradas da vida e das emoções. Corri... às vezes somente caminhei, e muitas vezes pausei. O importante para mim de tudo isso, é que eu fiz do meu jeito. Tive sim arrependimentos, e quem nunca teve? Nada tão relevante para lhe contar, errei e aprendi.
Aprendi com as duras quedas, e me levantei tantas vezes quanto foram necessárias.
Planejei os caminhos do meu mapa, e quando precisei tomar um atalho atentei ao cuidado de não passar dos limites.
Eu fiz o que acreditava ser o certo em cada época. Fiz do meu jeito.
Amei, ri e chorei, acertei, errei, tive muitas dúvidas, arrisquei, perdi, venci...
Fiz do meu jeito.
Às vezes lágrimas vem, foram muitas as fases de plena emoção.
As falhas foram inúmeras, muitas reconheci e assim sinto que cresci, agora sei que muitas fazem parte das minhas derrotas.
E pensar que eu fiz tudo do meu jeito...
Sempre fui um jovem meio teimoso, não seguia o que diziam ser o caminho que deveria tomar, ou o que deveria fazer. Para que serve o homem impedido de expressar seu sentimento?
Simplesmente fiz do meu jeito.
Assim projetei minhas fundações, arquitetei ao longo do caminho a minha casa, a minha família... assim eu me construí. Muitos desafios pela frente, mantendo desperto em mim a curiosidade maior do que somos, e do que fazemos nessa dimensão.
E você, meu amigo, conte-me ... como foi até o momento as fases de sua vida?
Você já conferiu as crônicas do Otavio Yagima nas plataformas de streaming? Não se esqueça de ouvir os textos pelo Spotify, Apple Music ou demais serviços clicando aqui, e também veja o neoPod especial das Crônicas que saiu lá no nosso canal no YouTube!
Se você curte as crônicas e pensamentos do dia que o Otávio traz para o site, acesse nosso Instagram!