A Primeira Profecia é Um Novo Capítulo no Horror Clássico Renovando a Franquia com Estilo e Profundidade
(Foto: Divulgação)
É natural ir para um filme de terror de franquia e esperar uma série de modismos que se repetem no gênero. Para começar, uma alusão frequente à marca, infinidade de referências em texto e imagem aos capítulos clássicos. O que não é comum é ter tudo isso e ao mesmo tempo abraçar uma estética própria, que entende o terror atual e renova uma franquia de quase 50 anos para uma narrativa condizente com o que é praticado no gênero nos dias de hoje. É essa mistura que diferencia A Primeira Profecia, novo filme da série de horror iniciada por A Profecia em 1976.
A trama se passa anos antes do primeiro filme e mostra a história da origem da seita religiosa que quer criar o anticristo na Terra. Acompanha-se essa jornada pelos olhos da jovem Margareth, vivida por Nigel Tiger Free, que sai dos EUA para um convento na Itália em busca dos votos definitivos para se entregar a Deus. Dentro do recinto, porém, ela começa a testemunhar práticas duvidosas. É um reinício que pouco se escora no original, mas que também presta a reverência necessária, sem se tornar obrigatório o conhecimento prévio da história – é neste fino equilíbrio que se sustenta também a atmosfera criada por A Primeira Profecia.
O mérito recai principalmente sobre Arkasha Stevenson, diretora conhecida por séries como Legion e Vingança Sabor Cereja, mas que aqui faz sua estreia nos cinemas. Focada em transformar o convento e a cidade de Roma em uma dualidade de luzes e sombras, ela resgata essa vocação do expressionismo para transmitir um senso de paranoia. Enquanto constrói o suspense em torno do que Margareth percebe como ameaças – ecoando inclusive perigos que cercam as mulheres de modo geral, situações tenebrosas como um parto bizarro ou um apagão no meio de uma balada – sem necessidade de sustos aleatórios ou explicações exageradas, Stevenson não se furta a recorrer ao horror mais gráfico, apresentando formas, monstros e violência na medida ideal para construir a agonia sugerida pelo sofrimento incutido no local.
Nigel Tiger Free entende bem a proposta e incorpora a inocência da freira iniciante e extrapola as expectativas ao evoluir com a própria personagem, revelando uma performance corporal impactante e na medida para combinar com as sugestões do horror visual de Stevenson. Sua atuação torna-se a âncora emocional do filme, conectando o público à vulnerabilidade e à crescente determinação de Margareth em meio ao caos crescente.
Sonia Braga, ótima adição ao elenco, lidera os coadjuvantes que permeiam a história em adições pontuais, sempre conectadas com a linha principal da história e das dores que mães e mulheres passam de forma recorrente. Sua presença adiciona uma camada de autoridade e misticismo, contribuindo para a atmosfera de tensão e desconfiança que permeia o convento. Braga traz profundidade e nuance para sua personagem, destacando-se em cada cena em que aparece.
Ainda que o final pareça acelerado e incondizente com o tom do filme como um todo, pois tenta conectar pontas soltas com a franquia, A Primeira Profecia não sai prejudicado e consegue com tranquilidade se tornar um dos melhores filmes da série. A decisão de acelerar o clímax pode dividir opiniões, mas não diminui o impacto geral da narrativa e da atmosfera meticulosamente construídas até então.
Em suma, A Primeira Profecia é uma das melhores surpresas do gênero em 2024, oferecendo uma abordagem fresca e visualmente rica ao horror clássico. Arkasha Stevenson prova ser uma diretora a ser observada, e Nigel Tiger Free entrega uma performance memorável que ancorará este capítulo da franquia na memória dos fãs por anos. A combinação de respeito pelo material original e inovação torna este filme uma adição valiosa ao legado de A Profecia.
Ficha técnica
Nome: A Primeira Profecia
Onde assistir: Cinema
Categoria: Terror/Sobrenatural
Duração: 1h 57m
Nota 4/5