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Crítica | Ainda Estou Aqui

Walter Salles entrega um drama de profundidade emocional e técnica primorosa, narrando a trágica história da família Paiva durante o regime militar no Brasil. A Persistência da Memória: Uma Jornada de Dor e Resistência em "Ainda Estou Aqui"


A Persistência da Memória: Uma Jornada de Dor e Resistência em "Ainda Estou Aqui"
Filme Ainda Estou Aqui

(Foto: Divulgação)


"Ainda Estou Aqui" é mais do que uma simples adaptação cinematográfica; é um retrato íntimo e devastador de uma família que viveu os horrores do regime militar no Brasil. Dirigido por Walter Salles, o filme transforma a obra de Marcelo Rubens Paiva em uma narrativa visual que transcende as barreiras culturais, encontrando ressonância em audiências ao redor do mundo. Desde sua estreia no Festival de Veneza, a produção gerou um burburinho que a posiciona como uma forte concorrente nas premiações de 2025, incluindo o cobiçado Oscar.


No coração da história está Eunice, interpretada magistralmente por Fernanda Torres. Ela é a esposa de Rubens Paiva, um ex-deputado sequestrado e desaparecido durante a ditadura militar. A trama começa de forma impactante, com uma cena na praia do Leblon, onde Eunice flutua no mar sob o olhar opressivo de um helicóptero do exército. Esta imagem sintetiza a sensação constante de vigilância e ameaça que permeia o filme, estabelecendo o tom para o drama que se desenrola.


A força de "Ainda Estou Aqui" reside na forma como Salles escolhe focar na família, em vez de apenas nas atrocidades do regime. Mesmo nos momentos de maior violência, o diretor mantém o olhar centrado nas reações de Eunice e de seus filhos. Essa escolha narrativa humaniza o terror político, mostrando como as políticas de Estado se infiltram na intimidade do lar, destruindo-o de dentro para fora. A atmosfera de privilégio, inicialmente presente, contrasta dolorosamente com a realidade brutal que se abate sobre a família, ampliando o impacto emocional do filme.


A transição do suspense inicial para um drama de prisão e, eventualmente, para o trauma familiar, é manejada com maestria por Salles. A dinâmica da narrativa é ágil, mantendo o espectador engajado sem perder a intensidade emocional. A cada cena, o espectador é lembrado da tensão e da insegurança que marcaram aquele período sombrio da história brasileira. A edição do filme, combinada com a fotografia impressionante de Adrian Tejido, que alterna entre câmera na mão e planos estáticos que capturam luz e sombra com precisão, contribui para essa imersão completa na atmosfera do filme.


Tecnicamente impecável, "Ainda Estou Aqui" brilha também graças à trilha sonora de Warren Ellis, que complementa o tom melancólico e tenso da narrativa. No entanto, é Fernanda Torres quem realmente rouba a cena. Sua interpretação de Eunice é carregada de nuances, capturando a evolução da personagem de uma dona de casa relativamente protegida para uma mulher devastada pela perda, mas que ainda precisa se manter de pé. A participação especial de Fernanda Montenegro, interpretando Eunice nos anos 2000, adiciona uma camada extra de emoção, conectando a audiência ao legado de dor e resiliência da personagem.


O retorno de Walter Salles ao Brasil após mais de uma década não poderia ser mais significativo. "Ainda Estou Aqui" não é apenas um filme sobre o Brasil; é uma obra universal que explora temas de perda, resistência e a persistência da memória. A utilização de imagens de Super 8 intercaladas com as cenas do filme reforça a autenticidade da narrativa, mostrando que esta é uma história contada por alguém que conhece profundamente os lugares e as pessoas retratadas.


Em um tempo em que discursos nostálgicos sobre o regime militar ressurgem, "Ainda Estou Aqui" serve como um poderoso lembrete das atrocidades cometidas e das cicatrizes que permanecem. O filme não se entrega às armadilhas do melodrama, preferindo explorar a força da jornada de Eunice como uma janela para o passado. É uma obra que observa o presente através do espelho do passado, alertando que as sombras da ditadura, assim como os agentes que assombravam a família Paiva, continuam a nos observar.


 

Ficha técnica


Nome: Ainda Estou Aqui

Onde assistir: Cinema

Categoria: Thriller/Drama

Duração: 2 hr e 16 min

Nota 5/5


 

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