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Crônica #106 | Sociedade do medo.

Atualizado: há 3 dias

Sistemas em colapso.


capa da crônica 106 Sociedade do medo
Crônica

O que você encontrará nesta crônica:


O medo, hoje, domina o mundo e as pessoas. Você concorda? Vivemos em uma sociedade do cansaço, incapazes de processar a enorme quantidade de estímulos que recebemos. Os temores constantes dificultam o descanso e alimentam medos imaginários. A vida, já difícil, torna-se atormentada. Será que o medo tem um propósito mais profundo além de nos proteger do perigo? Você acha que ele é sempre uma força negativa? Ou pode ser uma força que nos impulsiona para mudanças e crescimento, ajudando-nos a enfrentar desafios e superar limites enquanto exploramos novos horizontes? Onde buscar a resposta?


 

I. A árvore sinistra.


Quando eu era criança, o sítio do meu amigo era como um paraíso terreno, onde o tempo parecia não existir. Lá, descobri o lado mais divertido da vida: nadar em riachos cristalinos, pescar, jogar futebol no campinho e soltar pipas que desenhavam formas no céu. No entanto, foi um evento em particular que marcou essa fase e me fez perceber que a vida tem seus mistérios, incluindo o medo.


O caminho até a casa do meu amigo era uma trilha estreita, uma aventura em si mesma. Cerca de um quilômetro de distância, cortando a mata para encurtar a separação entre nossas casas. Uma árvore enorme e imponente ficava justamente no meio do caminho. Sua aparência e constituição exalavam um ar de mistério, enquanto os sons misteriosos de morcegos ecoavam de dentro do tronco. As partes internas eram queimadas e escuras, e na base da árvore, havia pedras dispostas de maneira enigmática que apenas aumentavam o fascínio que ela exercia sobre nós.


Naquela época, eu não dei muita importância a esses detalhes. Descobri mais tarde que a árvore, colossal no seu tamanho e com suas folhagens frondosas, era um pau-d’alho. Ela tinha uma abertura no tronco, talvez causada por um raio, que lhe conferia uma aparência única e intrigante. E, para completar a aura de mistério, emanava um forte cheiro de alho em certas épocas do ano. Essa foi uma parte fascinante da natureza que aprendi a admirar.


Na plantação do seu pai, enquanto comíamos os deliciosos tomates com sal, meu amigo de repente iniciou uma conversa intrigante: “Ei! Está vendo aquela grande árvore ali? Ela guarda histórias que meu avô costumava contar. Dizem que à noite, vozes misteriosas saem dela. Foi um ponto de encontro para povos antigos, que realizavam rituais ali. Meu avô dizia que esses costumes eram de muito tempo atrás, da época em que existia escravidão.”

-“Você tem medo dela?” perguntei, com uma mistura de curiosidade e ansiedade.

-“Da árvore, não, mas das assombrações que têm lá, sim...Pergunte à minha mãe. Ela conhece todas as histórias sobre isso.”


Então, sua mãe começou a contar:

- “Certa vez, uma mulher chegou com uma criança doente no colo, sabendo que, embaixo daquela árvore, todas as sextas-feiras, havia um curandeiro que fazia benzeduras. A garotinha chorava, gritava e falava em uma língua estranha sempre que chovia. Desesperada por uma solução, a mãe a levava até lá. Um dia, encontraram a boneca da menina pendurada nos galhos da árvore e, depois disso, a família nunca mais foi vista.” Eu ouvi atentamente o relato, arrepiado de medo.


Em uma tarde específica, enquanto estava na casa do meu amigo, uma tempestade forte nos pegou de surpresa, impossibilitando minha partida mais cedo. Fui criado pelos meus pais com o valor de cumprir promessas, o que incluía estar em casa até as 18h. Assim que a chuva deu uma trégua, decidi que era hora de voltar para casa. Ele me emprestou uma lanterna, um guarda-chuva e um par de botas. Seu irmão mais velho se ofereceu para me acompanhar até a estrada, mas, por não querer incomodá-lo, recusei sua oferta.


Minha jornada começou.

A trilha estava escorregadia por causa da chuva. Enquanto caminhava, algo tocou meu pé

– um pequeno animal, talvez um gambá, já sem vida, sendo arrastado pela correnteza. Ao ver o animalzinho morto, meu estado emocional começou a mudar. Eu me lembrei: preciso passar por aquela árvore. Mas é apenas uma árvore, não preciso ter medo... No entanto, já me sentia estranho.


O medo da morte está presente na natureza humana, mesmo que de forma inconsciente, pois representa o pavor de perder a vida. Esse medo leva a inúmeros outros medos, como o de perder o emprego, pessoas queridas, posses, objetos valiosos, status, segurança, solidão, a confiança nos outros e até mesmo o medo de amar. As reações egoístas nascem do medo de perder. Somos assombrados pelo medo do desconhecido, do escuro, de altura, de pessoas, de multidões, de animais e de insetos, que se manifestam como fobias, trazendo desafios perturbadores. Quando cultivados, os medos de adoecer, sofrer ou morrer fazem com que a vida se transforme em uma sequência de constante sofrimento.


 

II. À beira da escuridão.


No meio da trilha, lá estava o pau-d’alho, envolto em escuridão, iluminado apenas pela minha pequena lanterna. Sua forma imponente se destacava à medida que a luz dos raios se distanciava. Então, o pior aconteceu: a bateria da lanterna acabou justamente quando eu estava me aproximando da árvore.  Foi nesse momento que a sensação de insegurança tomou conta de mim, e os contos narrados pelo meu amigo e sua mãe começaram a ecoar na minha mente. Em pensamento, eu clamava por ajuda. Voltar significava admitir minha falta de coragem, mas prosseguir poderia me livrar de uma repreensão por não voltar para casa no horário combinado. Pensar na repreensão me fez decidir continuar a jornada.

 

Na travessia da vida, todos enfrentamos tropeços, decepções e falhas, que se tornam mestres, ensinando-nos os melhores caminhos para alcançar nossos objetivos. As dificuldades se apresentam como recursos de aprendizagem e evolução. O medo frequentemente se esconde na ilusão de que tudo deve ser fácil, sem esforço ou dor, gerando incertezas sobre viver.

 

Não lidar com os medos desde o início, outros mais perversos e traiçoeiros podem surgir, acumulando-se uns sobre os outros, tornando-se cada vez mais complexos e difíceis de resolver. Todos nós temos sonhos e objetivos de felicidade, mas o medo muitas vezes os obscurece e dificulta sua realização, pois ele nos aprisiona, eliminando nossa capacidade de pensar com clareza e criatividade. É muito importante enfrentar o medo enquanto temos oportunidades, tempo e saúde, pois chegará o momento em que esses recursos não estarão mais disponíveis.

 

Não muito longe da grande árvore, um bambuzal sussurrava melancolicamente ao toque do vento. Meu coração pulsava acelerado enquanto eu caminhava, mantendo a cabeça baixa para evitar qualquer deslize. De repente, próximo à árvore, ouvi um forte grunhido e vozes humanas que, até hoje, me causam arrepios. Minha mente começou a divagar, e logo me vi perdendo o controle da situação. O que fazer agora? Um sentimento muito forte se apossou de mim por inteiro: era o medo, avassalador, aflorando como um gigante opressor, fazendo-me entrar em desespero de tanto temor. Saí em disparada! Corri em pânico, com o som do vento no bambuzal e as vozes entrelaçadas ao grunhido misterioso, misturando-se com as histórias que meu amigo havia contado. Era como se o medo estivesse testando todos os meus limites.


Diante de situações de um medo muito intenso, somos violentamente confrontados com nossa lógica, o que impacta a forma como pensamos e agimos. Isso frequentemente resulta em distúrbios de comportamento devido à intensificação do medo. Ele é um laço que se aperta em nós, trazendo consigo um sentimento de estranhamento e intimidação. Naquela corrida frenética, percebi que o medo não é apenas uma resposta ao perigo, mas uma força que pode moldar nossa percepção da realidade e nossa capacidade de agir, podendo nos prender e paralisar, mas também nos fazer sair em disparada.


 

III. A sociedade do cansaço.



O medo hoje é uma força que tem dominado o mundo e as pessoas. Estamos inseridos ainda em um sistema que se nutre de nossos fluidos mais densos, dos nossos medos mais profundos. A grande maioria sequer percebe a manipulação por trás das circunstâncias geradoras de sentimentos como medo, pânico ou desespero, geralmente ocultas sob o falso manto de se promover cuidado e segurança para todos. Não existe forma mais fácil e eficaz de manipular as pessoas do que através do medo, tornando-as peças fáceis de controle, como o gado que apenas segue passivamente a sua manada.


Observemos nossa realidade mundial, onde somos inundados por enormes ondas que muitas vezes se constituem de verdadeiro lixo, golpeando nossas mentes através dos noticiários da grande mídia. Nesse cenário, é comum exaltar e destacar o que é estranho e violento na sociedade, o que, por sua vez, retroalimenta alucinações e delírios de enfermos perversos, transformando a vivência urbana moderna em uma série de choques constantes.


Você já parou para questionar a quem ou a quê estamos alimentando com os nossos medos? A quem ou a quê estamos dando poder? E como isso afeta as nossas vidas e o nosso mundo?


Consciências mais despertas já compreendem as realidades subjetivas por trás de tantas circunstâncias provocadoras de medo. Estamos, porém, finalmente, em tempos de reconfiguração e renovação de sistemas; do micro ao macro, esses resets estão em execução. Os sistemas estão à beira de um colapso, imersos em seus próprios processos, necessários e inevitáveis. Novos horizontes certamente surgirão em breve, como uma promessa de algo novo chegando, onde uma luz aguarda pacientemente sua vez de brilhar. É uma espera ansiosa, mas confiante, semelhante à respiração contida antes do amanhecer, quando os primeiros raios de sol começam a iluminar o caminho à frente, como o sol prestes a nascer após uma longa noite escura.


Por enquanto, estamos ainda neste momento, mergulhados em uma verdadeira sociedade do cansaço, que, em sua configuração social, econômica ou cultural, faz do medo um sentimento limitante e paralisante. A velocidade frenética de nossas vidas nos deixa pouco tempo para processar a avalanche de estímulos, e o medo, por sua vez, frequentemente se transforma em uma doença. Esses temores constantes, que dificultam o descanso e alimentam os receios imaginários, atormentam e tornam a vida muito difícil, criando um terreno fértil para que os medos se intensifiquem, seja qual for sua natureza: pressão por desempenho, competição acirrada, falta de conexão social ou mesmo ansiedade em relação ao futuro.


Terríveis terremotos, furacões e inundações acontecem de tempos em tempos, causando mortes, destruindo cidades e colocando outras em risco. O violento terrorismo político em todo o mundo, a violência nas cidades, as profundas injustiças sociais, a competição desenfreada por negócios, entretenimento e poder de qualquer natureza resultam em medos perturbadores. Não bastasse toda essa pressão socioeconômica e cultural, somos consumidos pelo sentimento de impotência diante dos desastres, naturais ou provocados, mas catastróficos; muitas vezes como consequência do desgoverno, da indiferença e da insensatez de algumas autoridades mundiais. Essa atmosfera desperta um medo que nos faz refugiar no silencio e no temor, mantendo-nos em constante alerta, sempre preocupados com a próxima ameaça.


Você tem muitos medos? Já refletiu sobre eles e consegue identificar suas causas? São realmente justificáveis?


 

IV. A expressão do amor.


Cheguei em casa tremendo, não apenas pelo frio da chuva, mas principalmente pelo medo desumano que senti perto da árvore sinistra. Com receio da repreensão que estava à minha espera, fui tomado por um novo medo. Porém, qual não foi minha surpresa ao ser acolhido por minha mãe, que me envolveu em uma toalha e começou a secar meus cabelos. Aliviado e sob a luz que me aconchegava junto a ela, toda a escuridão daqueles momentos percorridos no escuro do medo foi se diluindo. Na própria pele, senti e vivenciei que o amor tem o poder de dissipar até os medos mais profundos.


Na expressão do amor a si mesmo, aos outros e ao nosso Criador, a vida adquire um novo sentido, e os relacionamentos se fortalecem através da irradiação da bondade e ternura. Amar a si mesmo está no respeitar-se e refletir de forma racional sobre o propósito da vida e, diante do que a vida espera de nós, qual é a contribuição que podemos oferecer. Através do amor, encontramos a maneira mais eficaz de lidar, superar e eliminar os medos. A solidariedade, com seus braços fraternos, nos ajuda a apoiar os outros e a nos sentirmos mais dignos e saudáveis. Quando recebemos bondade da vida, cria-se harmonia, e um dia saberemos também retribuir e ajudar o nosso meio, o nosso mundo, no ponto em que ele mais precisa.


Hoje, contemplo com leveza o evento assustador daquele dia apavorante da minha infância. Ainda na imaturidade da idade, não entendi que poderia ter sido como um chamado silencioso, adormecido em meio à escuridão, suplicando por um resgate pessoal.


Um lembrete de que há uma luz dentro de cada um de nós, uma chama capaz de iluminar até os dias mais sombrios. E que prosseguir sem medo era o desafio, afastando da escuridão em direção à busca da luz e da verdade.

Não era uma tarefa fácil, mas quem disse que viver é fácil?


E assim, hoje, escolhi ouvir essa voz interna que insiste em falar para escolhermos avançar, pois nossa jornada é sobre avançar, mesmo quando tudo ao redor parece desmoronar. Resgatarmo-nos a nós mesmos e revelarmos ao mundo a profundidade da força na fé, coragem na integridade e clareza na busca incessante pela verdade.


Porque, no fim, é essa busca constante pela luz e pela verdade que nos define e nos distingue em um mundo ainda tão marcado pela incerteza e pela escuridão.


O medo: cabe a nós decidirmos enfrentá-lo ou nos entregar a ele.

A escolha entre o medo e o amor é intrínseca e profundamente pessoal, pois esses dois sentimentos não coexistem no mesmo espaço emocional.


O amor, que nos faz crescer e nos enriquece, transcendendo limites, dando razão e sentido à nossa vida, permite-nos unir esforços para a construção de um mundo bem melhor. Talvez assim então possamos ser finalmente acolhidos em uma serena e amorosa quietude da paz.


 

Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.

 


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