Diante da segunda metamorfose.
O que você encontrará nesta crônica:
"O que nos afasta do Divino: o peso deste mundo tão material ou a resistência em confiar no invisível, diante do abstrato? Existe um caminho que sempre esteve ali, aguardando ser reconhecido, mas que, talvez por sua simplicidade, desperte nossa desconfiança. Sabemos que não são doutrinas ou rituais que nos elevam, e sim o abandono do casulo do ego, em uma verdadeira metamorfose. É nesse instante, no silêncio profundo da alma, que o encontro com o Divino se torna possível. Você já teve esse encontro? Já experimentou essa plenitude? Se não, o que ainda prende suas asas e o impede de alçar esse voo?"
I. O Anfitrião.
Ao chegar ao hotel, as palavras do pastor continuavam ecoando em minha mente. Eu não conseguia tirá-las da cabeça, repetindo a promessa de paz como um mantra silencioso. Naquela noite, o sono parecia impossível. Minha mente, antes saturada de batalhas internas e planos, agora estava tomada por uma ansiedade diferente – uma sede por conhecer mais sobre Deus e tudo o que o pastor havia falado. Era como se eu tivesse encontrado algo muito além de qualquer ensinamento terreno, algo maior e mais profundo do que tudo o que já ouvira.
No dia seguinte, pedi licença aos meus amigos e, com o coração acelerado, segui em direção à igreja. Havia uma leve inquietação em mim; parte de mim se perguntava se o pastor se lembraria daquela breve conversa que tivemos na noite anterior. Talvez eu fosse apenas mais uma visitante entre tantas.
Quando cheguei, porém, avistei-o na entrada, saudando pessoalmente cada pessoa que entrava. Ele estava ali, à frente da igreja, como um anfitrião que recebe com carinho e simplicidade. Aquilo me surpreendeu. Em minha mente, figuras de liderança espiritual deveriam ser protegidas, isoladas da exposição, mas ali estava ele – vulnerável e acessível, sorrindo para cada rosto que passava.
Ao me aproximar da entrada, o pastor me reconheceu e, com um sorriso acolhedor, estendeu a mão para me cumprimentar.
- “Fico feliz que você tenha vindo”, disse ele, com um brilho no olhar que parecia ver muito além da minha presença ali.
Após uma breve pausa, ele perguntou:
- “Aliás, como é mesmo o seu nome? Ontem, você não chegou a me dizer.” Sorri, meio sem jeito, e respondi. Ele retribuiu o sorriso, mas com um ar enigmático e profundo, como se já tivesse compreendido algo que eu ainda não sabia.
- “Sabe”, disse ele, “sinto que você já passou por uma grande metamorfose e está prestes a passar por outra, mais profunda que a primeira. Metamorfose sempre me lembra borboletas, e você é como uma delas, porém rara e preciosa, pois, pela primeira vez, veremos uma borboleta passar por uma segunda metamorfose.”
As palavras dele me fizeram sorrir, mas senti algo mais profundo reverberando nelas, como uma promessa de uma nova transformação. Ao entrar, fui imediatamente envolvida por uma energia acolhedora e divina que parecia preencher cada canto daquele lugar simples.
Il. As Boas-Novas.
O culto começou de forma vibrante, com músicas cheias de vida que preenchiam o espaço com uma energia contagiante. As pessoas ao meu redor cantavam com uma alegria sincera, cada letra exaltando a salvação e o Salvador, e eu, embora ainda fosse uma visitante, sentia-me abraçada por aquela atmosfera de devoção e esperança. Quando a música cessou, o pastor caminhou até o púlpito, e sua voz serena preencheu o espaço em meio ao silêncio respeitoso da congregação. Ele convidou a todos a abrirem suas Bíblias no livro de Mateus, capítulo 15, versículo 22, e leu em voz alta:
- “Uma mulher cananeia, vinda daquelas cercanias, pôs-se a gritar: ‘Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente atormentada por um demônio.”
Após a leitura, o pastor fez uma pausa, deixando as palavras se assentarem no coração de cada um ali presente. Ele então começou a explicar, sua voz calorosa nos guiando pelos detalhes da passagem.
- “Essa mulher”, disse ele, “não era alguém que o povo judeu esperasse ver buscando ajuda do Messias. Era uma estrangeira, alguém à margem das crenças e das tradições daquele tempo. Mas, ainda assim, ela veio a Jesus com toda a humildade e fé que tinha, clamando por sua filha. Ela não se importou com as barreiras ou os julgamentos; tudo o que ela queria era a salvação para quem mais amava.”
O pastor continuou, seus olhos parecendo encontrar cada pessoa no salão, conectando-se com os corações ali presentes. “E, ao fim, o que ela encontrou foi paz – uma paz que só existe quando encontramos alívio para os nossos maiores tormentos. Ela foi embora sabendo que sua filha estava salva, mas também com uma paz que acalmava o seu próprio espírito. Essa é a paz que Deus nos oferece: a paz de quem entrega sua dor e aflição nas mãos do Criador, confiando em Seu amor e em Sua força.”
De repente, enquanto o pastor falava e a congregação permanecia em silêncio reverente, algo magnífico aconteceu. Bem acima de todos, surgiu uma visão tão maravilhosa que me deixou sem fôlego: um anjo imenso, envolto em uma luz indescritível, pairava sobre o altar. Sua presença irradiava uma paz tão profunda que, por um instante, tudo ao meu redor parecia se dissolver. Olhei ao redor, mas ninguém parecia notar. Apenas eu o via, e algo dentro de mim sabia que aquela visão era só para mim.
lll. Revelações Extracorpóreas.
Quando me dei conta, já não estava mais ali, no meio do culto. Em vez disso, estava de pé no topo de uma colina, com o oceano vasto e infinito se estendendo à minha frente sob o esplendor do pôr do sol. O céu estava tingido de laranja e dourado, e as ondas refletiam a luz de forma quase etérea. Ao meu lado, o anjo permanecia, olhando em direção ao horizonte com um olhar sereno e sábio.
Ali, envolta pela grandiosidade daquele cenário e pela presença do anjo, senti-me tomada por uma paz que eu jamais havia experimentado. Era como se, naquele instante, cada inquietação, cada dor e cada lembrança de batalha se desvanecessem, dissolvidas pela quietude profunda que emanava do ser de luz ao meu lado.
O anjo então olhou para mim e, embora não pronunciasse uma palavra, era como se eu ouvisse sua voz dentro da minha mente, suave e firme ao mesmo tempo. Ele estendeu sua mão em um gesto que parecia um convite, uma chamada silenciosa para algo maior.
Naquele momento, tudo se tornou claro. Entendi que estava diante da minha segunda metamorfose, como havia afirmado o pastor. A partir daquele instante, o anjo me levou a viajar por lugares de beleza e mistério indescritíveis e, a cada novo cenário, ele compartilhava comigo mais sobre Deus e sobre o Seu Reino. Era como se minha alma estivesse absorvendo lições que minha mente ainda não conseguia compreender por completo, mas que ecoavam dentro de mim, despertando uma compreensão silenciosa e profunda.
Nosso primeiro destino foi um vale onde pessoas repousavam tranquilamente, como se estivessem adormecidas, aguardando o arrebatamento. Suas expressões eram serenas, em paz, e o anjo me ensinou ali sobre a esperança: a esperança daqueles que aguardam o dia em que encontrarão o Criador.
Depois, fomos levados a um vasto deserto, onde o calor era intenso e o vento levantava redemoinhos de areia. Ali, o anjo me falou sobre a provação, dizendo que, assim como o povo de Israel passou 40 anos no deserto antes de entrar na Terra Prometida, cada um de nós precisa atravessar seus desertos internos para alcançar o que Deus preparou para nós.
Em seguida, visitamos o Monte Sinai, onde Moisés recebeu os mandamentos. Pude sentir a solenidade daquele lugar sagrado, e o anjo me falou sobre a importância da lei divina e da obediência, ensinando-me que ela é uma ponte que nos aproxima do caminho de Deus.
De lá, fomos transportados ao Jardim do Getsêmani, onde Jesus orou na véspera de Sua crucificação. Naquele jardim, uma paz melancólica reinava, e o anjo me ensinou sobre a entrega e a rendição à vontade de Deus, mostrando que, até nas horas mais difíceis, existe uma força em aceitar o propósito maior que nos é reservado.
Nosso próximo destino foi um campo florido, repleto de lírios brancos. O anjo explicou que ali estava o ensinamento sobre o cuidado divino, mencionando que, assim como os lírios não trabalham nem tecem, mas ainda assim são cuidados, Deus também cuida de cada um de nós de forma ainda mais especial.
Por fim, ele me levou às margens de um rio cristalino, onde a água fluía tranquila e límpida. O anjo me falou ali sobre a pureza e a renovação, dizendo que, assim como a água limpa tudo o que toca, a paz de Deus purifica o espírito, lavando as dores e as mágoas e permitindo que renasçamos.
Cada lugar trazia um ensinamento novo e profundo, e, a cada passo, minha alma se sentia mais leve, como se uma nova compreensão sobre a paz e a fé estivesse sendo gravada em meu ser.
lV. O Verdadeiro e Simples Caminho.
Ao final dessa jornada, o anjo e eu retornamos ao topo daquela colina, onde tudo começara. Lá, sob o mesmo céu dourado pelo pôr do sol, ele voltou a me olhar com aquele olhar penetrante e, em silêncio, uma verdade profunda foi revelada ao meu coração. Em cada lugar que visitamos, ele me ensinara algo essencial, mas, naquele momento, percebi que todas as lições apontavam para a mesma direção.
Com a mesma voz silenciosa, como uma mensagem gravada em minha alma, compreendi que há um único caminho. Não se trata de doutrinas complexas, de rituais ou de santos que o homem idealiza na tentativa de alcançar o divino. Não. O anjo me mostrava que o verdadeiro caminho é simples, direto e está escrito nas palavras de Deus.
Ele apontou para um livro, o mesmo que o pastor mencionara: a Bíblia Sagrada. Ali, ele indicava, estava o “manual” que Deus nos deixara – não apenas como um registro de história ou de preceitos, mas como um guia vivo, revelando a verdade e a salvação. Entendi que era ali que se encontrava a paz que tanto buscava, minha fé e minha entrega ao que estava escrito.
O anjo então estendeu sua mão, e ao tocar a minha, percebi que ele se despedia. Seu toque transmitia serenidade e segurança, e, enquanto ele desaparecia diante dos meus olhos, senti uma paz que ia além de qualquer coisa que já tinha sentido. Naquele momento, sob o céu que escurecia, entendi que minha busca havia terminado, mas minha jornada com Deus estava apenas começando.
Após duas semanas viajando estrada afora, resolvi voltar. Pude entender, de um outro lado, as peças no quebra-cabeça que faltavam.
No caminho de volta, procurei conexões com o espiritual e com tudo o que havia vivenciado. Entendi muito mais sobre aquilo que não fazia sentido para mim. Precisei quebrar dogmas que aprendi a ter por tudo o que presenciei desde minha infância.
Buscarei mais o cristianismo, através dele, aprofundando-me na fé e no dom que Deus me deu de acesso ao mundo espiritual, para poder ajudar aqueles que precisam, com orações e em busca da proteção que só Deus pode oferecer.
Antes de ir embora, o pastor me deu o seu contato e disse:
- “Lembre-se, ninguém avança na fé sem agradecer tudo o que Deus já fez. Gratidão não é sobre dizer obrigado, é sobre um estado de espírito.”
Estarei conectada com ele sempre que puder. Aos poucos, permitirei que minha jornada fale por si, deixando que o tempo revele o essencial e confiando na misericórdia divina, fonte do perdão de que todos nós, em maior ou menor grau, necessitamos.
......
As ações e decisões de nossas vidas pertencem a cada um de nós; não são impostas pelo nosso Criador, pois Ele nos concedeu o dom da liberdade de escolha. Somos livres para escolher o ritmo do nosso crescimento, mas o convite para crescer é estendido a todos. Nosso Criador é uma energia absoluta de amor incondicional.
E assim, minha querida amiga viveu sua segunda e profunda metamorfose: o renascimento que inaugura uma nova vida. Juntos, aprendemos algo valioso: independentemente de nossas falhas, há uma força maior que atua silenciosamente sobre nós, ajudando-nos a limpar as sombras da alma e a restaurar a paz que tantas vezes julgamos perdida.
Essa força maior, expressa na graça e misericórdia divinas, é o alicerce onde podemos depositar nossa esperança, direcionando nossos corações a ela com a confiança de que conhece e compreende as profundezas do nosso ser. É dessa compreensão que brota o poder de nos transformar, curar e guiar, conduzindo-nos sempre a algo maior do que imaginávamos ser possível.
Minha amiga, não muito tempo atrás, você deve se lembrar de ouvir que havia algo mais belo do que a beleza que carregava. Naquele momento, você ainda despertava, como uma flor começando a desabrochar sob os primeiros raios de sol. Agora, o ciclo se cumpre, e você se tornou a essência do que estava destinada a ser: um exemplo vivo de espiritualidade autêntica, um testemunho de que a paz, tantas vezes buscada fora, sempre esteve dentro de si, esperando apenas que sua busca pelo Pai Celestial a trouxesse à Luz.
Sua jornada revelou a força maior, silenciosa e transformadora, que age sobre todos nós, conduzindo-nos em direção ao nosso melhor.
Encontrou a origem verdadeira da Luz, aquela que guia, como o Farol que aponta caminhos em noites escuras. E, ao buscá-la, desvendou as raízes da gratidão genuína e o sentido mais profundo do amor - o Quinto Elemento, aquele que une e conecta tudo, iluminando o caminho para quem ousa enxergar além.
Que essa trajetória nos inspire a acreditar que, mesmo nos momentos mais difíceis ou sombrios, existe a Luz esperando para nos revelar quem realmente somos. Mas, quantos de nós estamos prontos para superar as incertezas e encontrar, com coragem, o caminho que essa Luz nos aponta?
Mensagem de Natal
Permitamos, hoje, véspera de Natal, abrir nossos corações à luz que emana da conexão direta com o nosso Pai Celestial. Entre o silêncio e a fé, que o encontro mais sublime seja com o nosso próprio ser, onde as respostas, banhadas pela Luz Divina, aguardam o anseio da nossa alma.
Nossos caminhos se revelam em cada pensamento, palavra, ação e oração, conduzindo-nos, passo a passo, à realização plena de nosso ser.
Que cada oração se transforme em um elo de esperança, cada silêncio seja um convite à união sagrada e cada gesto represente a expressão viva de um amor que cura e renova.
Celebremos, assim, a vida que renasce em nós a cada nova esperança, permitindo que esta data se torne um marco de profunda reconexão com o Divino.
Dê de presente a si mesmo a esperança e a fé: um gesto simples, mas capaz de transformar os universos interiores.
Feliz e Abençoado Natal no coração de cada um de vocês!
Veja Também: Crônica #118 | O encontro. (Parte 1)
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Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.