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Foto do escritorOtavio Yagima

Crônica #34 | A partida

Atualizado: 23 de nov. de 2023

Nós partimos ou chegamos?



Numa segunda-feira, no anexo ao posto de combustível de um conhecido, eu estava aguardando uma lavagem simples do meu carro e presenciei uma conversa interessante.


Na ausência de clientes, frentistas e gerente estavam reunidos próximo a uma bomba de combustível numa calorosa discussão. Fiquei curioso e resolvi me aproximar por ver aquele grupo já conhecido por mim, envolvidos em disputar o tom mais alto de palavras e gesticulando como se quisessem chamar toda atenção para suas colocações. Mais próximo deles percebi que falavam sobre certo e errado da política e geopolítica e, nesse aspecto, todos sempre querem ter razão colocando cada um o seu ponto de vista. Ficaram assim discutindo por um pouco mais de tempo e, de repente, o gerente cortou o assunto.





Todos se voltaram para ele, semblante triste e com pesar na voz disse:


- “Semana passada morreu a filha de uma vizinha minha, Irene. Ela era bonita e alegre. Tinha uns 25 anos. Eu conhecia essa moça desde quando ela nasceu. Morava com a sua mãe, dona Beatriz. O pai dela morreu faz uns 7 anos; alcóolatra, bebia feito um condenado e não parava em serviço algum. Era um bom pedreiro, então mesmo não parando em serviço algum sempre aparecia alguém precisando, e lá ia ele fazer os serviços. Mas por causa da bebedeira, um dia caiu de um andaime e assim morreu. Sua mãe Beatriz é diarista. Mesmo com poucos recursos, batalhou muito e conseguiu pagar o curso de enfermagem para sua filha. Irene já trabalhava cuidando de idosos e buscava emprego fixo.”


Inconformado com essa situação e trazendo à tona o teor da discussão anterior ele pergunta:


- “Vocês acham certo isso? Uma moça batalhadora, sonhadora e com um futuro pela frente morrer assim?... Enquanto que tem um montão de gente “ruim da peste” vivendo numa boa? Caramba!!! Tá errado isso!!! Outro conhecido da rua onde eu moro, tem um moleque que matou uma pessoa... de menor, solto, continua fazendo barbaridades com a família dele por causa de drogas e assaltos... está aí, vivo.”


Um dos frentistas retruca.


- “Gente boa vai embora primeiro e os maus (falando em palavrões) ficam aqui porque precisam pagar tudo em vida!”


O bate papo continuou acirrado, interrompido por alguns clientes que chegavam para abastecer.


A minha mente se desligou por um momento e fiquei a pensar no que diziam e, que muitas vezes também perguntamos; é justo, é certo, é errado?


Por quê? Porque o castigo do Divino com essas criaturas más parece não existir? Onde está a justiça e a razão? Porque essa crueldade para com uma pessoa que segue uma linha correta? Será que o pensamento do grupo está alinhado com a justiça humana? Ou a justiça Divina é ainda não compreendida?


Muitos imaginam que nosso Criador julga e condena; que escolhe que as pessoas boas devem viver menos que as más, e que é verdadeiro o velho ditado popular que diz que os maus devem viver mais para sofrer mais.





São causas e condições que fazem que a vida seja longa ou curta. Tudo é manifestação de uma causa. Não se pode preestabelecer que são castigos ou punições Divinas e sim uma questão de vida humana, uma escolha própria, mas não necessariamente consciente.





Toda doença ou sofrimento traz uma mensagem para nós. A morte está dentro da razão de vida daquela pessoa, não pode ser considerada pura e simplesmente ruim. Não pode ser julgada se foi justa ou não, a não ser que consigamos levar em conta o verdadeiro princípio de Vida daquela pessoa, em toda sua amplitude, profundidade e extensão. E isso para nós ainda é muito distante. Então, não nos resta a opção de confiar, de acreditar que tudo está certo, mesmo dentro do caos. Vivemos ainda dentro de uma realidade relativa coberta com muitos véus que não nos deixam ver o que realmente é verdadeiro.


A vida e a morte são uma coisa só. A vida e a morte são a mesma coisa. Saímos da vida para a morte ou saímos da morte para a vida? Qual é o sentido?





Hoje, já não podemos negar a existência de algo mais. Não podemos desprezar a nossa vida na matéria, e precisamos cuidar dessa vida com carinho e atenção. Não ignorar e cuidar também com carinho e atenção da nossa alma, do nosso espírito... que não se interrompe; a não ser pela ignorância humana.


Se conseguirmos ver os dois mundos, da matéria e do espírito ao mesmo tempo. Se vermos os dois planos podemos dizer que estamos vivos sempre, a vida continua além das aparências de vida e morte.





Fiquei a pensar sobre o Dia dos Finados. Finados nos traz, obrigatoriamente, o tema morte.


Creio que a morte é uma das maiores batalhas que precisaremos enfrentar na nossa vida, é algo tão natural e tão complexo ao mesmo tempo, que por isso, gera esse sentimento tão profundo em nós humanos.


Por mais que tenhamos conhecimentos nunca estaremos preparados para a morte, é sempre um momento muito pesado, muito duro. O “deixar de existir” nos assusta muito.





Como não se tem como aprender a morrer ou prever o exato momento e a forma como vai acontecer, se tem muito medo da morte. Podemos ir em busca de respostas para entender, e vai chegar o momento em que nos sentiremos obrigados a buscar essas respostas.


Talvez por termos ainda uma identidade grande com nosso corpo, talvez achemos que vamos perder tudo, até essa nossa identidade. E o medo aumenta no grau do nosso materialismo.





Homenagear o dia dos mortos.... creio que é para muitos poucos o pleno entendimento.


Se faz necessário uma consciência espiritual.


Nesse dia podemos expressar respeito aos nossos finados. Nossa família costuma praticar Gratidão aos nossos antepassados. Lembrar deles oferecendo oração sincera, flores, velas, incensos. O que você acreditar que chegará até eles, com carinho e muito amor.


Deixemos para especialistas e teólogos o conceito sobre tanotofobia (medo extremo por morte).



A vida e seus mistérios. E entre tantas “incógnitas” existe
esse polêmico e tão presente assunto:

A morte...ou a vida?


 

Confira essa crônica também em formato de Podcast!



 

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