Produção da HBO Max concorre em 15 categorias, e é uma das favoritas do ano
Contar piadas pode ser algo extremamente difícil, a não ser que você tenha uma grande história para contar. Esta frase pode representar a série "Hacks", produção da HBO que começou como uma minissérie, e que já foi renovada para seu segundo ano. Aqui, duas gerações de mulheres do entretenimento se encontram, e suas vivências e ideias entram em choque.
Hacks conta a história da comediante Deborah Vance, extremamente bem-sucedida em Las Vegas e que leva uma vida de magnata da indústria. Deborah tem falas ácidas, sabe que manda e não vê problema em comandar tudo ao redor — e a trama começa aí. Para tentar renovar a carreira, que passa a ser ameaçada por novos artistas da cena, a personagem precisará abrir mão do pulso firme para deixar uma figura inédita fazer parte de sua vida e trabalho.
No caso, a personagem Ava surge para mudar as coisas. Ava, representada pela comediante Hannah Einbinder, é uma roteirista de Los Angeles que perde o emprego por conta de um tweet errado, e encontra a salvação da carreira em Deborah. Assim, Ava passa a escrever piadas novas para as apresentações de stand-up comedy da veterana, mas a vivência entre as duas pode ser mais difícil do que aparenta.
O conflito entre gerações é o carro-chefe de Hacks. Deborah, que é interpretada pela atriz Jean Smart, é extremamente apegada aos velhos tempos: reutiliza piadas e jargões nos shows, é metódica com a rotina, e não aceita a substituição de sua figura como ícone da diversão. Só que Ava enxerga que Deborah precisa renovar a carreira, e tentará de tudo para ajudá-la; e manter o único emprego que lhe restou, claro.
O desenvolvimento da amizade entre as duas é leve e divertido, e o espectador mal percebe a velocidade com que os episódios passam. Meia hora de transmissão parece se tornar dez minutos, e Hacks é ótima para uma maratona. Apesar do enredo também carregar uma pitada de drama, ao mostrar flashbacks da juventude de Deborah (que não foi nada fácil, diga-se de passagem), a série mantém o ritmo da comédia e a vontade de conhecer as personagens melhor.
O papel de Jean Smart é cheio de camadas. A aparente teimosia e superficialidade de Deborah Vance, como comediante queridinha de Vegas, é apenas a ponta do iceberg. Nesse sentido, a artista carrega traumas, inseguranças e mágoas em relação à família — que a fizeram criar o escudo que a mantém soberana entre funcionários e colegas de profissão. Nisso, Ava quebra esta casca episódio por episódio, ao conhecer outros personagens que formam o círculo de convívio de Deborah, e que também têm muito a dizer sobre ela. A filha de Vance, DJ (Kaitlin Olson), e o assessor Marcus (Carl Clemons-Hopkins) ajudam a manter o ritmo de interações.
Além disso, a personagem de Hannah Einbinder não fica para trás no quesito back story. Apesar de sua criatividade, Ava não está à par do estilo de comédia tradicional (e por vezes problemático) de Deborah, mas ela não se deixa vencer: a troca de farpas é constante. Contudo, como dito acima, a dupla que move Hacks redescobre seus respectivos valores como profissionais e indivíduos conforma a relação se desenvolve.
O suprassumo da produção da HBO é o público entender quem é Deborah Vance. Por que ela tem certas atitudes? Por que a relação com a família é tão conturbada? Por que Deborah, no fim das contas, está sempre sozinha? É por meio das piadas de Jean Smart nos palcos, e sua acidez nos bastidores, que Hacks mostra que Deborah tem uma grande história para contar; e que sua comédia é uma transformação da tristeza.
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