“Lobo-terrível” recriado em laboratório? Entenda por que a ciência ainda desconfia da novidade
- Redação neonews
- 9 de abr.
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Empresa americana anuncia nascimento de filhotes inspirados em espécie de Lobos extinta há 10 mil anos, mas cientistas afirmam: trata-se de lobos-cinzentos geneticamente modificados

(Foto: Divulgação)
A notícia correu a internet como se fosse o primeiro passo para um Jurassic Park da vida real: um grupo de cientistas da Colossal Biosciences, nos Estados Unidos, teria ressuscitado uma espécie extinta há mais de 10 mil anos — o famoso lobo-terrível, ou lobo pré-histórico. Mas a história, embora intrigante, não é bem como parece.
“Em 1º de outubro de 2024, pela primeira vez na história da humanidade, a Colossal restaurou com sucesso uma espécie outrora erradicada por meio da ciência da desextinção. Após uma ausência de mais de dez mil anos, nossa equipe tem orgulho de devolver o lobo terrível ao seu devido lugar no ecossistema”, afirma a empresa em seu site oficial. O anúncio veio acompanhado de vídeos e imagens dos filhotes, que impressionaram à primeira vista.
No entanto, a comunidade científica reagiu com ceticismo. Até o momento, não há artigo publicado em revista científica revisada por pares — um dos critérios mais importantes para validar uma pesquisa. Sem isso, o que se tem é apenas um comunicado de imprensa cheio de entusiasmo e poucas evidências verificáveis.
Segundo especialistas como Jeremy Austin, do Centro Australiano de DNA Antigo, os animais exibidos são, na verdade, lobos-cinzentos modificados geneticamente. Em nota ao ScienceAlert, ele esclareceu que os filhotes são uma versão “editada” de uma espécie viva, com alterações feitas para se parecerem com aquilo que acredita-se que fosse um lobo-terrível — um animal cuja aparência ainda é debatida entre cientistas.

(Foto: Divulgação)
“O artigo não foi oficialmente publicado ainda, mas pelo que foi relatado, o genoma editado foi do lobo-cinzento, uma espécie que ainda vive nas áreas temperadas”, explicou a bióloga Raissa Tancredi.
As diferenças entre os dois animais existem, mas são sutis. O lobo-terrível (Aenocyon dirus), extinto há cerca de 10 mil anos, habitava a América do Norte e possivelmente tinha uma pelagem mais clara. Já o lobo-cinzento ainda percorre florestas e planícies em regiões dos EUA, Europa e Ásia. Apesar de sua imagem popular como uma versão “gigante” do lobo moderno, os lobos-terríveis eram apenas um pouco maiores.
A Colossal afirma que editou 20 partes do genoma dos filhotes. Destas, apenas 15 estariam ligadas a características do lobo-terrível — e as cinco restantes foram usadas apenas para deixar os animais com a pelagem mais clara. A iniciativa, embora ambiciosa, levanta questionamentos éticos e científicos. Afinal, o quanto se pode “reviver” uma espécie se não sabemos exatamente como ela era?
Por ora, o projeto da Colossal é mais uma provocação biotecnológica do que um marco definitivo. Mas ele serve para lembrar que o futuro da genética e da chamada “desextinção” está mais perto do que imaginamos — ainda que envolto em dúvidas, debates e DNA editado.