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Foto do escritorneo Thiago

Especial Oscar 2021| “Os 7 de Chicago” entrega muito mais do que só um filme de tribuna

Atualizado: 6 de ago. de 2021


Abbie Hoffman (Sasha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong) entrando no tribunal

(Divulgação/Netflix)


Em meados dos Anos 60 os Estados Unidos viviam seus tempos mais conturbados. Estavam em meio a Guerra Fria, e o ponto desse fato que é destaque em “Os 7 de Chicago” é a Guerra do Vietnã. Após a morte do presidente John F. Kennedy, Lyndon B. Johnson toma posse, e durante seu duplo mandato o número dos alistamentos aumentaram drasticamente, o que não agradou parte dos americanos, já que o único resultado vindo dessa política era o aumento dos mortos.


E cá estamos, onde se passa toda a história do filme. O ano é 1968, prestes a acontecer a Convenção Nacional Democrata. Grupos antiguerra decidiram ir até Chicago para manifestar contra as políticas do presidente. Porém, o que começou com o intuito de ser algo pacifico se transformou numa guerra entre manifestantes e policiais. Oito homens foram acusados de serem os responsáveis por toda a violência da multidão, e o que segue é um julgamento que se resume a apenas uma palavra: revoltante.


“Os 7 de Chicago” é, em suma, um filme de tribunal. O enredo todo se baseia no julgamento, e os flashbacks que se passam fora deste ponto central são na verdade os acontecimentos que fizeram com que tudo aquilo acontecesse.


Vendo assim parece nada demais, porém o que se destaca na obra é a qualidade de alguns dos pilares mais importantes do cinema: atuação, trilha-sonora e roteiro.


Os protagonistas dessa história, ou em outras palavras, os acusados, são: Abbie Hoffman (Sasha Baron Cohen); Jerry Rubin (Jeremy Strong); David Delinger (John Caroll Lynch); Tom Haiden (Eddie Redmayne); Rennie Davis, (Alex Sharp) ; John Froines (Daniel Flaherty); e Lee Weiner (Noah Robbins).


Também são personagens importantes da trama: o líder do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), também acusado; Willian Kunstler (Mark Rylance), advogado da defesa; Richard Schultz (Joseph Gordon Levitt), advogado da acusação; e Julius Hoffman (Frank Langella), o juiz do caso (acredite em mim, até o final do filme você odiará ele).


Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), Leonard Weinglass (Ben Shenkman), William Kunstler (Mark Rylance), Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp) dentro do tribunal.

(Divulgação/Netflix)


As únicas atuações que não chamam muita atenção são as de Redmayne, o que não se espera de um vencedor do Oscar, e do Gordon Levitt. Porém pode haver uma explicação, dada a personalidade de seus personagens, que são de pessoas mais controladas, não dando chance para o ator esbanjar sentimento e mostrar seu talento, porém em seus momentos de estouro, principalmente de Redmayne, não sentimos muito a emoção do personagem.


Tom Foran (J. C. Mackenzie) e Richard Schultz (Joseph Gordon Levitt)

(Divulgação/Netflix)


Vale o destaque para a dupla feita por Sasha e Strong. Ambos interpretam ativistas que são contra o sistema, e possuem atitudes radicais. Em um momento do filme, por exemplo, Strong ensina dentro de uma sala de aula como fazer um coquetel molotov, para que seja usado nas manifestações. Os dois servem durante grande parte do filme como alívio cômico, porém não se enganem, são duas pessoas com ideias bem sólidas e que sabem muito bem o que defendem.


Esse mal-entendido é o que gera um dos conflitos mais interessantes da trama, que é o conflito ideológico entre os dois hippies, e o personagem de Redmayne. Ambos possuem o mesmo objetivo: dar um fim à guerra, porém pensam completamente diferente. Há uma cena que reflete e resume muito bem esse conflito: Sasha está em uma roda com algumas pessoas em volta e ele diz: “Nós devemos combater fogo com fogo”. Redmayne, que passa ao lado, comenta: “Não seu idiota, para combater fogo nós tacamos água”. É um conflito ideológico que perdura até os dias atuais e no Brasil também, que é entre a esquerda radical e a esquerda liberal. A resolução desse conflito, no filme, é um pouco piegas, mas vale a reflexão.


Outro conflito muito interessante que ocorre é entre o juiz e toda a bancada de acusados, incluindo o advogado de defesa. O que vimos é claramente um juiz com opiniões já formadas sobre o caso. O que resulta em uma diferença gritante de tratamento entre os dois lados, porém o mais revoltante sem dúvidas é a forma como o Bobby Seale, líder dos Panteras Negras, é tratado. Não há como tirar o fator racismo de dentro das atitudes do juiz, e tratamentos a pessoas negras, como o que vimos no filme, ainda ocorre corriqueiramente nos dias de hoje dentro dos tribunais.


Julius Hoffman (Frank Langella). O juiz que é o “vilão” do filme (Divulgação/Netflix)


O roteiro e a direção são de Aaron Sorkin, que fez seu nome na indústria como roteirista, em que teve trabalhos de destaque e de alta qualidade. Como em “Steve Jobs” (2015), na qual ganhou um Globo de Ouro como Melhor Roteiro, e “A Rede Social” (2010), em que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Em seus últimos trabalhos tomou rédea também da direção. Em “Os 7 de Chicago” fica explícito a qualidade altíssima de sua escrita. Seu estilo conhecido por falas que se destacam, e diálogos rápidos, também está presente nessa obra. Porém a inexperiência de Sorkin na direção também fica clara. Não me entenda mal, não é que temos uma direção ruim, longe disso, é apenas que ela não é nada demais. Nos é entregue, no quesito direção, apenas o feijão com arroz.


Porém, mesmo com uma direção sem brilho, nos picos altos do filme, o sentimento de tensão e caos é transmitido muito bem, e muito devido a qualidade da trilha sonora e da montagem. A segunda chegou até a receber uma indicação ao Oscar desse ano. Um ponto que vale destaque dela é o breve uso de imagens e vídeos reais dos acontecimentos do filme. De certa forma serve de lembrete de que tudo que vemos de fato aconteceu


O único ponto fraco da história é sua conclusão. Ok, o que nos é mostrado de fato aconteceu, e foi fomentado de forma clara diversas vezes durante o longa, porém a forma que foi feita é tão brega que acaba ofuscando um pouco a qualidade do resto da história.


Jerry Rubin (Jeremy Strong) em meio a uma das manifestações (Divulgação/Netflix)


Mas tirando essa questão, “Os 7 de Chicago” trabalha muito bem diversos temas que são pauta até hoje, como manifestações violentas, violência policial, abuso de poder de autoridades, racismo, atrito ideológico dentro de lados políticos iguais, entre outros. A revolta de quem assiste deve ser reproduzida também para a vida real, pois não se engane, injustiças desse tipo ainda ocorrem. Esse é um filme que incentiva o debate e a reflexão de temas pertinentes até hoje, mesmo a história se passando no final dos anos 60, e com certeza vale ser assistido.




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